O Tribuna Manhã mostra o trabalho de quem torna o consultório mais acolhedor. -------------------------------------- 🎙️ Assista aos nossos podcasts em http://tribunaonline.com.br/podcasts
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00:04Empatia, escutativa, uma comunicação que respeita as necessidades de cada paciente
00:10e um cuidado verdadeiramente humano.
00:13A gente vai conhecer agora um dentista capixaba
00:16que está mostrando que atender com respeito, com paciência, com acolhimento
00:21pode transformar o consultório, porque vamos combinar, né gente?
00:24Eu tenho medo da cadeira do dentista, você aí de casa com certeza tem um receio também
00:29e ele tem transformado o consultório num verdadeiro espaço de inclusão para todos e para todas.
00:34E ele está aqui ao vivo com a gente e vamos conversar com o doutor Lucas Gazzinelli.
00:39Doutor Lucas, deixa eu tomar um café aqui com você, bater um papo.
00:42Bom dia, bem-vindo.
00:43Obrigado, Bruna, pelo convite. Bom dia a todos também.
00:46É um prazer estar aqui para poder falar de um assunto que a gente sabe que as pessoas não gostam muito de falar, né?
00:50É, dentista.
00:52Dentista.
00:53Doutor Lucas, a gente estava acompanhando ali alguns vídeos dos seus atendimentos, né?
00:58Nas suas redes sociais tem muita coisa legal que você compartilha.
01:02Como é que começou?
01:03Olha que legal o paciente fazendo carinho em você enquanto você está fazendo ali o tratamento nela.
01:08Como que você começou nessa área?
01:09Porque a gente sabe, principalmente para as famílias atípicas, que é muito difícil encontrar profissionais como você.
01:15É, a gente... vamos voltar um pouquinho, né?
01:18Primeiro eu sou especialista na parte da odontopediatria, já fiz vários cursos aí na área e também me especializei, né?
01:26Foi caminhando para ir para o atendimento específico para crianças dentro do transtorno do espectro autista.
01:32Com o passar do tempo eu percebi que não eram só as crianças, né?
01:34A gente tem os adolescentes, os adultos.
01:37Então, eu percebi que dentro da odontologia, apesar de a gente ser o país que mais tem dentista no mundo, eu não sei se você sabia dessa informação.
01:45Não, eu não sabia.
01:45Só que a gente ainda é um país de desdentados.
01:48Por quê?
01:48Porque a cultura aqui não é em relação à prevenção e sim o tratamento, né?
01:53Então, quando eu comecei, desde lá da faculdade eu já sabia que eu queria atender crianças, porque é um público...
01:58Eu falo que eu não tenho muita paciência para adulto hoje em dia, mas para crianças e principalmente crianças que têm alguma deficiência, algum transtorno do neurodesenvolvimento, como as crianças com autismo.
02:09Então, depois de me formado, eu trabalhei um tempo na PAI, fui me especializando e hoje eu estou aqui no estado, já tem oito anos que eu retornei.
02:17Então, dentro dos consultórios, a gente faz outros atendimentos também, hospitalares, inclusive.
02:23Então, eu gosto muito disso que a gente faz e a gente sabe da necessidade.
02:27Pois é, e é um atendimento que ele é especial em tudo e é diferenciado em tudo, né, doutor?
02:35Cada paciente que senta ali na sua cadeira, ele tem uma necessidade específica e o seu tratamento também precisa ser muito diferenciado, né?
02:45Perfeito, perfeito.
02:46Vamos falar um pouquinho sobre a necessidade que a gente tem de individualizar cada tratamento.
02:52Quando a gente fala sobre o transtorno do espectro autista, a palavra espectro significa exatamente isso, que existe uma grande variabilidade de sinais, de sintomas e que cada paciente um é diferente do outro.
03:04A gente, primeiro, Bruno, a gente precisa tirar esse estereótipo de que a autista é aquela criança que fica no canto da sala, balançando para frente e para trás,
03:12que não gosta do toque, que não sabe se comunicar, existe uma grande variabilidade dessas características e a gente precisa respeitar a individualidade de cada um desses pacientes.
03:25Então, lá no consultório, a gente aí tenta fazer com que esse momento que a gente sabe que é tenso para as crianças, tenta fazer um momento de alegria, um momento de aprendizado, né?
03:34Junto ali com a troca com os pais também, que é muito importante.
03:38Então, é tentar trazer o lúdico e a humanização para uma área que a gente sabe que é muito difícil, né?
03:43E seus atendimentos, normalmente, você está sempre fantasiado assim de super-herói, Dr. Lucas?
03:47Olha, vale a pena falar sobre isso.
03:49Esse que a gente está vendo nas imagens aí é um jaleco fantasia.
03:54Ah, é um jaleco?
03:54É um jaleco.
03:55É liberado pela Anvisa, tem desenho industrial, segue as normas.
03:58Olha eu falando fantasiado, não é um jaleco, gente.
04:01É, mas muita gente acha que é uma fantasia, mas não, a gente passou, é uma coleção de jalecos super-heróis que eu tenho em parceria com a empresa.
04:10Então, eu ajudei a desenhar e tudo, para a gente trazer uma nova abordagem da odontologia, né?
04:16E aí, em relação aos jalecos, a gente sabe que muitas crianças, só de ver alguém de jaleco branco, já fica apavorada.
04:22Já fica com medo, é verdade.
04:23Então, quando a gente está lá no consultório, que está todo mundo, não é só eu, mas todo mundo que trabalha dentro do consultório.
04:29Sua equipe também, né?
04:30E aí, quando está todo mundo super-herói, a criança já começa a olhar, a enxergar ali de forma diferente.
04:35Então, a abordagem, essa primeira abordagem que a gente faz, já faz toda a diferença aí ao longo do atendimento.
04:42Então, os jalecos, ele traz, olha lá, a criança até fantasiada, sabe?
04:46Ele também traz essa dinâmica legal, porque as crianças também vão fantasiadas.
04:50Então, a gente já começa a fazer um assunto sério, mas a gente trata com diversão.
04:55Com certeza. Teve algum caso marcante, assim, doutor Lucas, perdão, que você pode compartilhar com a gente, que te marcou mesmo?
05:03Acho que, tanto pelo tamanho do desafio, mas depois que passa também, você faz o acompanhamento com o paciente.
05:08É uma conquista pra você, pra família, pro paciente, né?
05:11É difícil essas perguntas. Às vezes me fazem essa pergunta, mas acho super difícil, porque acho que a conquista é de todos os pacientes, sabe?
05:20É de todos os pacientes. Às vezes, é algo que é muito simples pra alguém que não está dentro do transtorno do espectro autista.
05:26Pra ele, é algo extremamente desafiador, né?
05:29Então, uma coisa que eu sempre falo é como lidar com esse comportamento desafiador, né?
05:34Com esse momento desafiador em um ambiente que é extremamente aversivo, como consultório odontológico.
05:39É, o cheiro, o barulho ali da maquininha.
05:42Exatamente. Então, assim, pequenas coisas, grandes conquistas, sabe?
05:46Mas a gente tem os casos, tanto esses que estão mostrando aí no vídeo, como também de um paciente do Felipe, que sempre teve muita dificuldade com odontologia.
05:56Então, assim, já tinha passado por algumas experiências prévias negativas e a gente ali, com toda uma abordagem diferenciada, a gente conseguiu essa modificação de comportamento, né?
06:05Então, todo paciente, ele merece essa atenção individualizada, ele merece que a gente preste atenção.
06:12E uma coisa que eu venho falando muito é pra gente não silenciar o choro da criança, porque, pensa comigo...
06:18Ela quer dizer alguma coisa com o choro.
06:20Exatamente. Então, e o que nós adultos queremos?
06:23Que a criança pare de chorar, né?
06:25Então, não pra que você tá chorando, por que você tá chorando.
06:28E tem motivo pra ela. Ela tá ali num ambiente que ela nunca foi antes, né?
06:32Então, gera medo, gera insegurança e a gente, enquanto profissional, a gente precisa saber acolher esse medo, essa insegurança e, assim, poder estabelecer um vínculo com a criança, né?
06:41Uma comunicação com ela, com a família também, porque a família também tá apreensiva pra esse momento.
06:47Imagino, com certeza. Os pais ficam ali naquela expectativa.
06:50Você falou do Felipe, né? Do seu paciente.
06:52Felipe é o filho da Alexandra?
06:53Isso, isso.
06:54Ah, a gente conversou com a Alexandra, ela compartilhou com a gente um pouquinho também de como é que foi essa experiência, né?
07:00Ela já tinha passado por outras experiências anteriores e da diferença, né?
07:05Que ela observa agora no Felipe, no pequeno, né?
07:07Como é que ele tá agora mais receptivo, né?
07:10Isso.
07:10A todo o atendimento.
07:11Vamos ver o que a mamãe Alexandra falou. Roda aí.
07:15Olá, eu sou a Alexandra Kovri, mãe da Milena de 12 anos e mãe do Felipe de 5 anos.
07:20E o Felipe é autista.
07:22E desde muito novinho, com 2 anos de idade, ele iniciou na terapia ABA.
07:27Mas mesmo assim, a gente enfrenta alguma dificuldade da rotina dele do dia a dia.
07:32Principalmente a escovação.
07:34Então, é muito difícil escovar os dentes do Felipe.
07:38O meu esposo tem que segurar e eu vou escovando e ele vai, né?
07:41Se debatendo, não querendo escovar.
07:44E a gente já tinha ido em alguns dentistas e sem sucesso.
07:48Porque ele se jogava no chão, se jogava no chão, falava que não queria, que não ia abrir a boca.
07:54Se desregulava em várias vezes.
07:56Foi aí que naquele momento de desespero, eu, minha esposa, estava na consulta com o neuro do Felipe.
08:01E ele nos indicou o doutor Lucas.
08:05Agendamos com o doutor Lucas em fevereiro desse ano.
08:07E aí, nessa primeira consulta, o posicionamento do Felipe foi o mesmo.
08:12Ele não quis sair do carro, falou que não ia no dentista, brigou com a gente.
08:16Aí, depois de muito trabalho, a gente conseguiu levar ele até a porta da clínica.
08:21E aí, quando ele viu a atendente vestida de lanterna verde, a assistente vestida de Batman,
08:27ele baixou a guarda, entrou, brincou um pouquinho.
08:31Mas, a todo momento, ele falava que não queria ficar no dentista, que não queria abrir a boca.
08:35E aí, quando apareceu o doutor Lucas vestido de super-homem, ele ficou mais tranquilo.
08:40Eu falo que o doutor Lucas é um dos anjos que apareceram nas nossas vidas.
08:44Porque, realmente, ser uma mãe atípica é matar vários leões por dia.
08:48E não é fácil.
08:50E ele, com esse jeito calmo, tranquilo, com uma abordagem inclusiva,
08:56ele transforma toda aquela dificuldade, aquela angústia que a gente tem e mostra a solução.
09:02E hoje, o Felipe, você fala assim, Felipe, vamos no tio Lucas?
09:04Ele adora, ele se prepara, ele quer ir, ele fica deitado na cadeira sozinho.
09:10Você não precisa se preocupar.
09:15Obrigada pela participação, Alexandra.
09:17Você vê que, como é importante, a família inteira se envolve no momento da angústia
09:21e, depois, também, o alívio de todo mundo de ver que deu certo, que está dando certo, né, doutor Lucas?
09:26Exatamente, perfeito.
09:28A Alexandra, ela cita uma técnica que a gente utiliza muito,
09:30fica a dica aí para os profissionais e para as famílias, que é a história social.
09:35O que é que uma criança com autismo precisa?
09:37De previsibilidade.
09:38Ela precisa saber que horas que vai começar uma atividade, que horas que se encerra.
09:42Então, ela está contando aí sobre essa história social,
09:45que é um livro que eu entrego para os pacientes na primeira consulta.
09:48E ela fica lendo esse passo a passo em casa com a criança.
09:52Tem eu de bonequinho, tem a criança desenhada ali.
09:54Então, a criança, ela vai saber que, à medida que a família vai contando,
10:00ela vai saber como que ela deve se comportar ali no consultório.
10:04Mas o que se comportar?
10:05Ela vai saber onde que está a cadeira do dentista, vai saber sobre o espelhinho,
10:09vai saber que eu vou fazer uma proflaxia e a hora que ela finaliza para poder ir para casa.
10:12Que incrível.
10:13Então, é bem legal.
10:14Doutor, tem gente querendo saber aqui se o seu atende adulto também.
10:18Olha, se estiver dentro do transtorno do espectro autista, sim.
10:22Mas a gente sabe dessa dificuldade.
10:23Então, lá na clínica, a gente ampliou esses atendimentos para as famílias, né?