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NotíciasTranscrição
00:00Olá, bem-vindos ao Ponto de Vista. Hoje vamos falar de reformas e manutenções em prédios e
00:17casas. A intenção é sempre melhorar, mas muitas vezes elas acabam gerando muita dor de cabeça e
00:24até acidentes. Para falar sobre isso, nosso convidado de hoje é o engenheiro e mestre em
00:30construção civil pela Universidade de Pernambuco, Luiz Fernando Bernhoft. Com ampla experiência na
00:37área, ele é professor de disciplinas sobre patologia das construções, revestimentos e tecnologia da
00:44impermeabilização. Professor Luiz Fernando, obrigado por ter aceitado o nosso convite. Muito prazer
00:49receber o senhor aqui hoje. Fernando, eu que agradeço. É um privilégio muito grande estar
00:55aqui e eu faço isso com grande satisfação e sei da importância do tema. Muito bem, para começar,
01:03eu queria começar abordando uma questão muito importante, né? O que é que é mais importante
01:08a gente levar em conta na hora de fazer uma reforma, seja num apartamento, seja num prédio residencial?
01:14Uma casa, por exemplo? Olha, eu diria que o marco inicial, eu diria que o grande pontapé inicial seria
01:23estar sendo assessorado por alguém habilitado e qualificado, né? Parece ser a mesma coisa,
01:32mas não é, né? Eu, por exemplo, eu sou engenheiro civil, eu sou habilitado para muita coisa a qual eu não
01:38sou qualificado. E meu juramento, quando me formei, diz que eu só vou assumir trabalho para qual eu sou
01:44qualificado. E seria o ponto de partida. É muito pouco, mas é o ponto de partida, é estar na mão de um
01:51profissional habilitado e qualificado. É comum, para economizar, os condomínios não darem tanta
01:56importância à contratação de um profissional qualificado? Ainda é comum. Está melhor, tá? De alguns anos
02:05para cá, infelizmente, a gente tem aprendido muito com os erros, né? É muito notório. Quem trabalha na
02:12área sabe, por exemplo, que o corpo de bombeiro mais exigente do Brasil é o Rio Grande do Sul, por causa
02:17da Boate Kiss, né? Nós aqui tivemos o episódio do Areia Branca e do Areia Branca para cá, algumas coisas
02:24mudaram. E as pessoas têm procurado mais o profissional habilitado e qualificado para te dar uma assessoria,
02:31tanto na manutenção como na reforma, porém, ainda estamos aquém, bem aquém do ideal e do
02:38correto e do seguro para a sociedade. Para refrescar um pouquinho a memória das pessoas, o Areia Branca
02:43foi um prédio em piedade? Piedade. Piedade que colapsou, né? Desabou o prédio em 2004. 2004.
02:52E qual foi a avaliação, o resultado final do laudo? Qual foi a causa? Então, algumas pessoas até
03:00contestaram essa causa, porque o laudo, muito bem elaborado, na época, o CREA juntou uma
03:07comissão multidisciplinar, um especialista em estrutura, um especialista em solo, porque havia
03:12uma desconfiança de que poderia ser o solo, um especialista em corrosão de armadura, em
03:17materiais. E o laudo foi absolutamente conclusivo de que foi uma falha de execução, apesar de
03:25ele ter colapsado quase 30 anos depois, mas foi uma falha de execução de concretagem. Ficou vazio,
03:33ficou vulnerável. A estrutura, na parte enterrada, ninguém estava vendo, tá? Interessante isso. Não era
03:38comum até então, ninguém ligava para isso. Na parte enterrada, a estrutura estava se deteriorando por uma
03:44vulnerabilidade que ela tinha. Ela não estava protegida o suficiente, como mandava a norma da época.
03:49E, ao longo do tempo, foi aumentando essa deterioração e ele colapsou na fundação.
03:54E foi uma coisa muito rápida, né? Não foi uma coisa que levou anos, os moradores ouvindo
04:00barulhos de estrutura, de rachaduras. Foi uma coisa meio rápida. Foi rápido, foi rápido. Assim, existe aí,
04:09começam a vir as teorias, né? Começa a vir gente dizendo, não, eu sabia que tinha um problema, mas a
04:13verdade é que até domingo anterior, ele caiu numa quinta-feira. Até domingo, ele estava habitado
04:20normalmente. Inclusive, estava se fazendo, tinha recém feito uma reforma na fachada. E domingo, ele
04:25deu um sinal. As pessoas se assustaram, porque foi uma espécie de estalo, um estrondo. Mas, como não
04:31viram nenhum indício, o problema era enterrado e não, e o indício não se manifestou para o que a gente
04:36chama de superestrutura, que é a estrutura visível. E aí, o pessoal continuou. Só que, na terça, deu um novo
04:43estrondo, que foi a sorte, não. É uma das características da estrutura de concreto
04:48armado. Ainda bem, ela dá um sinal, ela avisa. Na verdade, a estrutura sempre está
04:52conversando com você, você só precisa saber ouvir. E aí, sim, aí quando viram, aí começou
04:57a dar sinal, fissuras na garagem, o reservatório fissurou, secou. Foi uma confusão. Aí eles
05:03saíram, na quinta caiu. O senhor também é conselheiro do CREA, né? Eu queria saber se ainda
05:09é muito comum a pessoa escolhida para fazer uma reforma não ser um profissional qualificado.
05:16É muito comum. É muito comum porque a reforma é mais discreta, né? Ela é mais disfarçada.
05:21Não é como uma construção que o CREA vai lá fiscalizar, né? Ou até outros órgãos,
05:28não sei. Mas é diferente. A reforma, muitas vezes, as pessoas que passam nem sabem que
05:35o PREA está sendo reformado, né? É. A reforma também, mas uma construção precisa
05:39de uma aprovação, né? Caso contrário, se for para comercializar, o cidadão não
05:43vai conseguir comercializar. E aí você tem uma série de órgãos envolvidos. A reforma
05:48é discreta, né? Quem mora em apartamento, por exemplo, sabe disso. Às vezes você está
05:51dormindo, aí você acorda com um barulho, toque, toque, toque e aquele barulho dura três
05:56anos. Porque o cara diz, no meu apartamento eu faço o que eu quiser e começa a demolir
06:00parede. E externamente ninguém vê. No máximo uma caçamba daquela de metralha. E é difícil.
06:07A fiscalização, que já é por amostragem, como é a essência de toda fiscalização,
06:13isso não é um problema ela ser por amostragem, a lei seca também é, a alfândega do aeroporto
06:17também é, mas ela já é por amostragem e fica difícil de identificar esse tipo de trabalho,
06:23esse tipo de reforma.
06:24Uma reforma num prédio, ela sempre envolve algum risco também. Porque os apartamentos
06:30já estão ali habitados, né? E você está fazendo uma reforma com os moradores em casa,
06:35né? E quais os cuidados que um condomínio deve tomar na hora de fazer uma reforma que
06:41você sabe que vai envolver todo o prédio, todos os andares?
06:45Isso. Uma reforma num prédio, ela é duplamente importante no sentido de que existe o cuidado
06:53natural pro risco, por exemplo, de um colapso. E existe um cuidado com o teu vizinho. Existe
07:00cuidado com o todo. Você tem que ter garantias de que você não vai comprometer.
07:05Exemplo, né? É muito comum as pessoas dizerem, não, essa parede não é estrutural, eu posso
07:10tirar. Tá, mas se nessa parede passa uma prumada de antena coletiva e você tirar, você vai
07:16prejudicar o sinal de TV dos outros. Então, assim, vai desde um risco absurdo maior, colapsar
07:23o caos, né? O auge de um risco, como aconteceu já em alguns prédios, que durante a reforma
07:30vieram a colapsar, como riscos menores, mas igualmente importantes ou também importantes
07:37de você gerar transtorno, infiltração. Então, assim, existe uma série de problemas que
07:42podem resultar de uma reforma mal feita.
07:45Professor, hoje o que a gente mais vê é a reforma de fachada, né? É o tipo mais comum
07:49de reforma hoje? Reforma de fachada nos prédios? Ou é a mais visível somente?
07:55Exato. Recife, ela tem algumas características interessantes. O ambiente de Recife, ele é
08:03muito agressivo, né? Existe uma série de fatores que fazem com que o ambiente seja
08:07agressivo. Recife é o segundo ambiente mais agressivo do Brasil, ele perde só para a Fortaleza,
08:11tá? Porque aí tem vento, temperatura, o fato de estar à beira-mar, na orla, íon cloreto.
08:18Então, assim, uma das reformas mais relevantes que se tem em Recife, até pela idade da
08:23cidade, é de recuperação de estrutura, tá?
08:26Mais até do que de fachada?
08:28Mais até do que de fachada. Mas a mais visível, a mais volumosa, a que se gasta mais, é fachada.
08:35Até porque uma coisa tem ligação com a outra. As pessoas pensam que o revestimento, ele
08:40tem uma função apenas de...
08:43De belezamento.
08:44Estético.
08:44Uhum.
08:45Né? E na verdade, na faculdade de engenharia, você aprende que a função do revestimento,
08:50em primeiro lugar, proteger. Então, o revestimento, ele é feito para proteger. Então, quando eu
08:54faço uma manutenção numa fachada, eu estou protegendo. Se eu fizer uma limpeza de uma fachada,
09:00só limpar, eu estou fazendo uma manutenção preventiva. Por quê? Eu estou eliminando,
09:05tirando agentes agressivos que vão penetrar naquele revestimento, vão penetrar naquela
09:10estrutura e vão começar a causar danos maiores. Então, eu diria que é a mais importante,
09:14a fachada. E por ser a mais visível, é a que chama mais atenção.
09:18Mas é a que dá mais dor de cabeça na hora de se começar, assim, que vai envolver o prédio
09:24todo.
09:24É também a fachada.
09:26É a de fachada também.
09:27É também a fachada, porque ela faz muito ruído.
09:30Poeira também.
09:31Poeira, ruído. O cara bota tela, aí você perde a sua iluminação, fica calor. Você
09:36é comum interditar a parte de baixo, aí você não pode mais estacionar, depender do tipo
09:41da obra. Você pode interditar só durante o horário comercial e depois botar seu carro
09:45lá. Mas, a depender do tipo da obra, não dá para fazer isso. Aí você fica estacionando
09:48na rua por um ano, às vezes acontece. Então, a fachada, ela desprezou.
09:54Deveria ser melhor cuidada, porque, como minha avó, provavelmente a sua também dizia,
10:00prevenir melhor do que remediar. Então, se a gente fizer as prevenções corretas, ou
10:05não vai chegar o momento, ou vai retardar o momento que eu vou precisar botar ela toda
10:10abaixo para fazer de novo, que é esse transtorno monstruoso aí.
10:13Existe algum modo de se fazer uma reforma causando menos transtornos ou toda reforma envolve
10:19muito transtorno.
10:21Eu diria que eliminar o transtorno, talvez seja uma utopia aí que não dá para alcançar.
10:28Mas, bitigar, não tenha dúvida nenhuma.
10:30É bom as pessoas saberem. Existe uma norma, ABNT, Associação Brasileira de Norma Técnica,
10:38NBR 16280. Grava esse número, quem tem interesse.
10:43Que ela diz, e norma tem força de lei, não é uma cartilha, não. É uma norma que tem
10:50força de lei. E ela diz que, em teoria, qualquer reforma, qualquer edificação, antes precisa
10:56ser aprovada através de um plano de reforma. E o plano de reforma, ele é bastante abrangente.
11:01Ele fala desde como você vai demolir, que tipo de produto você vai usar, se tem produto
11:06tóxico, se tem produto inflamável, se vai ter sobrecarga, se você vai estar alterando
11:13ali o estilo de uso. Porque uma coisa eu tenho uma sala, outra coisa eu tenho uma biblioteca.
11:18Isso não é nem minha opinião, não é Luiz Fernando que está falando, não. É a norma
11:20que fala. Sobrecarga para a biblioteca é uma, sobrecarga para quarto é outra.
11:24Então, tudo isso tem que estar abrangido no plano de reforma. E se a gente seguisse
11:29essa norma, 90% dos nossos problemas teriam sido acabados.
11:33Ou seja, pelo que o senhor está falando, eu acho que o planejamento é muito importante.
11:37Para qualquer tipo de reforma, seja uma reforma num imóvel só, num apartamento, seja a reforma
11:44no prédio todo.
11:45Eu diria que a maioria não segue e acaba tendo prejuízos. Alguns mensuráveis e outros
11:53imensuráveis, como, por exemplo, um prejuízo ambiental.
11:56Em termos de manutenção, professor, o que é que é mais importante ter em mente na
12:00hora de cuidar do prédio, do prédio ou até da casa mesmo? O que é que as pessoas
12:05têm que ter mais em mente em termos de manutenção?
12:08A periodicidade, a regularidade de inspecionar.
12:15A gente tem um exemplo muito bom, que a lógica da engenharia civil é a mesma.
12:23É o nosso carro.
12:25É muito difícil hoje você conhecer alguém que ficou parado no meio da rua porque o carro
12:29quebrou.
12:30Eu me lembro quando eu era pequeno, meu pai dizia, ah, esse carro é muito bom, nunca
12:35me deixou na mão.
12:36E às vezes parava.
12:37Eu mesmo, quando eu era criança, eu me lembro com a minha mãe ali na avenida, o carro quebrado.
12:41Hoje você não vê isso, assim, num determinado tipo de carro.
12:47Por quê?
12:48Porque virou cultura.
12:50Você faz a revisão preventiva.
12:52Você troca o óleo do carro antes do óleo ficar ruim.
12:55Você troca o pneu do teu carro, se você for obediente àquela marquinha que o fabricante
13:02te dá, antes do pneu ficar ruim.
13:04Caso contrário, não faz sentido eu deixar ele ficar careca, correr risco.
13:07Então, na edificação, seria isso.
13:09O grande segredo é você sempre agir, se antecipar a essa ação.
13:14Você se antecipar ao problema.
13:16Em teoria, eu sei que é difícil e às vezes a condição financeira não permite isso,
13:22mas seria se antecipar ao problema.
13:23Cada material, cada componente tem uma vida útil e algum profissional habilitado, qualificado,
13:29vai lhe dar um planejamento e vai dizer, ó, essa vida útil desse material acaba com seis anos.
13:33Em teoria, com cinco anos e meio, você vai lá e troca.
13:35Ou seja, agindo sempre preventivamente.
13:38Essa seria o ideal.
13:40Muito bem, professor Luiz Fernando, vamos fazer um rápido intervalo.
13:42A gente vai continuar falando de manutenção e reformas.
13:46Você que está ligado aí, não saia daí.
13:48A gente volta já, já.
13:49O Ponto de Vista está de volta.
14:06Hoje estamos recebendo aqui o engenheiro Luiz Fernando Bernhoft.
14:11Ele é conselheiro do CREA e é também formado e é mestre pela Universidade de Pernambuco.
14:18Professor, continuando nossa entrevista, em termos de manutenção,
14:22a gente está no mês de abril, daqui a pouco começa a preocupação com chuvas, com alagamentos.
14:30Quais são as maiores preocupações que as pessoas, sejam em casas, sejam em prédios,
14:35devem ter agora que se aproxima o período de chuvas?
14:38Então, isso é um assunto muito importante, porque a água é o grande vilão das patologias das construções,
14:47dos problemas de construção.
14:49A grande maioria dos problemas de construções e de risco de construção
14:54tem alguma ligação um pouco mais direta, um pouco menos direta, mas tem alguma ligação com a água.
15:00E quando você chega num período desse, se você não tiver alguns cuidados,
15:05você pode sofrer danos, transtornos e prejuízos significativos,
15:12onde a solução seria bastante simples.
15:16No caso de uma fachada de um prédio, é mais complexo,
15:19porque aí é uma coisa muito abrangente, é um sistema construtivo muito grande,
15:23então é difícil você fazer soluções com pequenas ações.
15:27Mas, por exemplo, a cobertura, que é onde mais se sofre com água,
15:33você revisar uma cobertura antes do período de chuva, é importantíssimo.
15:38Eu já vi casos onde uma telha quebrada, que custa R$ 50,00,
15:45gerou prejuízo, processo, o morador processando o condomínio e ganhando causa de R$ 40 mil.
15:54A causa era uma telha quebrada.
15:57Por quê? Porque aí foi, queimou a televisão dele, o armário, não sei o quê,
16:00porque alguém subiu, quebrou, período de sol.
16:06Infelizmente, não é comum o cara que quebrar uma telha.
16:09Seria ótimo que ele fizesse isso, avisasse algum porteiro,
16:11ó, eu fui lá e quebrei uma telha.
16:13Ele não vai fazer isso.
16:14E aí a gente só vai descobrir quando chover.
16:17Via de regra, embaixo de um telhado desse, não tem impermeabilização,
16:20justamente por ter telhado.
16:21E aí você pode ter um prejuízo grande por uma bobagem.
16:24E aí você vai, obstrução de ralos, checar as calhas, se elas estão desobstruídas,
16:30checar os apoios dos telhados, as inclinações.
16:36Isso são coisas bastante simples.
16:38E são coisas que muita gente só faz depois que começa a chover.
16:41Exato.
16:41Mas deveria fazer antes, né?
16:43Exato.
16:43Depois que começa a chover, tem alguns serviços que você nem consegue fazer durante a chuva.
16:48Então a chuva é um problema, porque ela é a melhor época para você identificar o problema.
16:54Mas é a pior para você consertar.
16:57Muitos materiais de impermeabilização, você não pode aplicar na superfície úmida.
17:02E aí às vezes vazou, vazou.
17:03Você olha, tá bom, quando parar a chuva a gente conserta.
17:06Você não pode fazer nada.
17:07Então, assim, a melhor época para fazer os procedimentos é antes da chuva.
17:13Se você vai fazer uma perícia, se você quer identificar problemas, aí a melhor época é na chuva.
17:17Porque aí ela mostra logo.
17:18Se você quer contratar um laudo para identificar,
17:21ah, eu quero saber se aqui tem vício construtivo, a chuva é ótima.
17:24Mas para fazer as ações preventivas e corretivas,
17:28não pode ser, na maioria das vezes, não pode ser no período de chuva.
17:31Aí você fica aí refém por dois, três meses esperando passar esse período.
17:35Professor, em agosto do ano passado, já no final, 30 de agosto,
17:40nós tivemos o desabamento do teto da igreja do Morro da Conceição.
17:46Se chegou à conclusão na época de que a estrutura da igreja
17:49não comportava o peso das placas solares que tinham sido instaladas lá.
17:54Como foi que o senhor acompanhou aquela situação lá?
17:57Então, aquilo é muito comum.
18:00Isso veio à tona por ser algo grandioso, né?
18:04Um local, é um marco, é um local histórico, é um local...
18:10E ainda aconteceu três meses antes praticamente da festa, né?
18:14Do principal momento, né?
18:16Mas, assim, é muito comum aquilo acontecer que nada mais é do que
18:21eu colocar numa estrutura uma carga para a qual ela não foi projetada.
18:28Placa solar é fácil você identificar isso, mas não é só placa solar, né?
18:34Eu já subi em coberturas, em prédios, você chega lá e você vê uma caixa d'água
18:38que não é original, claramente não é original.
18:41Aí você vai procurar saber, o morador da cobertura achou que a pressão da água dele
18:45estava ruim, aí ele colocou uma outra caixa em cima da caixa
18:48só para o chuveiro da suíte dele, né?
18:50E aí, por menor que seja uma caixa dessa, um mil metros cúbicos, uma tonelada.
18:55Então, assim, você está botando uma carga que não é prevista.
18:58A placa solar, o que aconteceu lá no Morro da Conceição,
19:01em que infelizmente acontece correntemente, às vezes dentro da nossa casa.
19:06Eu falei, o cara transformar um quarto numa biblioteca,
19:09tem gente que tem uma verdadeira biblioteca dentro de casa.
19:12Não necessariamente vai dar um problema de colapso,
19:15mas pode dar um problema de serviço.
19:19As normas falam de limite último e limite último de serviço,
19:26que é gerar deformações que vão gerar transtorno, não necessariamente colapsar.
19:32Fissura, vou ter fissura, vou ter deformação de uma viga,
19:36vai emperrar uma porta, vai quebrar um vidro,
19:39porque a viga fletiu mais do que devia.
19:41Então, assim, essas sobrecargas não previstas, elas são literalmente um problema.
19:49Isso vale, no caso, a gente falou da igreja, mas vale para as casas também.
19:53Hoje tem sido muito comum a gente ver famílias instalando as placas solares
19:58em cima dos telhados das casas.
20:00Que cuidados as pessoas devem ter antes de tomar essa decisão?
20:04Vale para casa e vale até mais para casa,
20:07porque a estrutura do santuário era bem robusta.
20:12Ela realmente colapsou porque exageraram muito na sobrecarga.
20:17Mas em uma casa, normalmente, não tem uma estrutura daquele porte,
20:19uma estrutura metálica como era lá.
20:22E você precisa de um parecer estrutural.
20:26Você precisa de um parecer estrutural,
20:27porque muitas vezes você não tem mais o projeto.
20:30Quando você recebe hoje um prédio,
20:32você compra um apartamento novo, uma casa, até casa mesmo, nova,
20:35ele, por norma, por obrigação, por lei,
20:38o construtor deveria informar o que você pode,
20:41até quantos quilos você pode colocar naquele local.
20:43É o que se chama de sobrecarga acidental.
20:45É uma sobrecarga que é variável.
20:48A gente aqui, está aqui, é uma sobrecarga acidental.
20:49Quando a gente sai, os meus 120 quilos
20:52já não vai estar mais aqui atuando como sobrecarga acidental.
20:56Mas essa carga deve ser conhecida.
20:58A maioria das vezes não se conhece.
21:00Não tenho mais esse registro.
21:01E aí eu contrato um profissional habilitado, qualificado,
21:07e ele vai identificar qual a sobrecarga possível
21:10para aquele determinado local.
21:12Existem duas alternativas óbvias.
21:14Pode colocar, está liberado.
21:16Aí ele vai assinar, vai fazer uma RT,
21:18uma anotação de responsabilidade técnica.
21:20Vai botar o nome dele lá, dizendo que pode.
21:22Ou ele vai dizer, não pode.
21:24Se você quiser fazer,
21:26você vai ter que proceder a um reforço estrutural.
21:28E aí cabe lá, quem está contratando ele,
21:31saber se é viável ou não fazer o reforço para...
21:35Esse reforço no próprio telhado da casa.
21:37No caso das casas,
21:39é o reforço normalmente mais simples do telhado.
21:41Mas pode ser uma laje, também fazer um reforço numa laje,
21:45fazer um reforço numa viga, fazer um reforço no pilar,
21:47fazer o reforço do que for preciso na estrutura.
21:49No caso de casa, para placa solar,
21:54é uma coisa mais simples normalmente só na estrutura.
21:56Não é nem no telhado, é na estrutura do telhado.
21:59Voltando um pouquinho para as reformas,
22:01a informalidade nesse setor é muito alta?
22:05Muito alta, muito alta.
22:07Eu não tenho um dado estatístico.
22:09Até pela fiscalização não poder ser tão efetiva, né?
22:14Eu não tenho um dado científico,
22:17mas eu ouso dizer, se eu pudesse dar um chute,
22:20que talvez seja a área onde exista mais exercício legal da profissão,
22:24seja essa área de reforma em construção civil.
22:27que é impressionante.
22:30Uma vez eu estava chegando, ninguém me contou.
22:33Eu estava fazendo uma vistoria, eu fui numa unidade autônoma,
22:36num prédio, na Vida Boa Viagem.
22:38E o pedreiro que estava reformando lá, sem supervisão nenhuma, sem nada,
22:44e a proprietária ampliou a sala, pegou o quarto e fez uma sala maior,
22:49só que tinha um pilar no meio, entre o quarto e a sala, tinha um pilar.
22:53Ele falou, doutor, pode tirar esse pilar daqui?
22:56Eu achei que ele estava brincando.
22:58Aí eu dei uma risadinha assim,
22:59Aí eu continuei a vistoria e ele, pode ou não pode?
23:04Aí eu notei que ele estava falando sério,
23:05e que talvez ele pudesse fazer aquilo.
23:07Então, assim, é muita informalidade,
23:11eu diria que é muito risco que a gente corre,
23:14e o que os olhos não veem, o coração não sente,
23:17e a felicidade é inversamente proporcional ao conhecimento,
23:20e a gente não está vendo o que está acontecendo nesses apartamentos aí,
23:22mas é muito problema.
23:24Precisa de conscientização.
23:26Quais são os principais riscos que um serviço executado,
23:30sem atender às normas técnicas, podem trazer?
23:34O primeiro, o mais grave dele, seria você gerar um acidente, né?
23:39Uma alteração de um gás.
23:41Ah, o meu prédio, o meu apartamento, só é previsto,
23:44minha casa, só é previsto ponto para o fogão,
23:48e eu quero botar um boiler no meu banheiro
23:50para tomar banho quente sem chuveiro elétrico.
23:52E aí, essa alteração pode gerar um risco, um acidente,
23:55não necessariamente a casa cair,
23:56mas outros tipos de risco, instalações, incêndio, etc.
23:59Mas não são só esses, né?
24:01Existem diversos outros riscos.
24:03Você corre o risco de gastar demais.
24:05Por incrível que pareça,
24:07quando você não contrata um profissional habilitado e qualificado,
24:11às vezes você superdimensiona alguma coisa.
24:14Você não vai na engenharia.
24:16Um mestre de obra bem experiente,
24:1950 anos de experiência,
24:20ele constrói um prédio de 20 andares sem projeto.
24:23Não tenho dúvida nenhuma disso.
24:26Agora, o que pode acontecer com aquilo?
24:30Ficar mais caro, ficar superdimensionado
24:32e ter mais manifestação patológica.
24:35Não durar tanto.
24:37Existe hoje uma coisa que a norma de engenharia bate muito,
24:40que é a expectativa de vida útil.
24:42Então, é ter problema cedo demais.
24:44Então, você acha que você arrebentou, economizou,
24:48está vendo que eu não preciso de engenheiro,
24:50mas aí com 3, 4 anos você vai começar a ter problema
24:52uma coisa que deveria durar 20.
24:54Então, esse risco financeiro,
24:57que você não mensura na hora que você está fazendo a reforma,
25:01acontece demais também, demais.
25:03Muitas vezes a gente volta para consertar algo
25:06que foi absurdamente feito de forma equivocada.
25:09Agora, Luiz Fernando, e para quem fez alguma alteração no apartamento
25:14que implica uma sobrecarga?
25:16Por exemplo, o cara transforma o quarto numa mini academia
25:19ou até numa biblioteca, como você falou.
25:22Que cuidados eles precisam ter?
25:24A pessoa que faz uma mudança dessa na casa ou num apartamento,
25:29ela deveria fazer o quê antes de instalar equipamentos de academia
25:34dentro do quarto ou muitos livros?
25:37Qual seria a saída?
25:38A rigor, a rigor, é a mesma lógica lá do santuário.
25:43Eu vou colocar uma carga não prevista,
25:46alguém tem que me autorizar.
25:48Esse alguém é um profissional habilitado.
25:50E aí vai ter aquelas duas alternativas.
25:52Pode, não pode. Se não pode, vai ter reforço.
25:55Porque, assim, são muitas nuances.
25:57Uma vez uma pessoa me fez uma pergunta interessante.
25:59Eu achei interessante, porque eu nunca tinha pensado.
26:02Ela falou, é permitido botar aquelas redes
26:06que é tipo para uma pessoa só que fica presa no teto do outro.
26:11Eu nunca tinha pensado nisso.
26:14Aí eu falei, a rigor, não.
26:16Porque a sobrecarga daquela laje ali está prevista para aquele cara de cima usar.
26:21Aí imagina eu com 120 quilos sentar numa rede dessa
26:27e, por coincidência, o cara de cima coloca um piano ali.
26:30Então, assim, ele tem o direito de colocar o piano se é a laje.
26:34A laje é dele.
26:35Então, assim, é muito detalhe.
26:38É muito detalhe.
26:39E, às vezes, a gente brinca.
26:40A gente acha que nunca vai acontecer comigo.
26:43Sempre vai passar batido.
26:46Mas a gente corre alguns riscos significativos
26:49quando não estamos em boas mãos, assim,
26:51do ponto de vista de profissional habilitado.
26:53Isso vale para qualquer profissão.
26:55E na engenharia não é diferente.
26:56Eu acho que, para a gente concluir, Luiz Fernando,
26:58vale o conselho da avó lá, né?
27:00Que você falou, né?
27:02Que tem que ter cuidado, tem que ter...
27:05Como era mesmo o conselho?
27:05Prevenção.
27:06É melhor prevenido que remediar.
27:07É melhor prevenido que remediar.
27:08E a lógica da manutenção predial, ela é essa.
27:12Tanto que as normas ou a lei,
27:14aqui em Pernambuco tem uma lei estadual,
27:16mas, normalmente, pelo Brasil, a lei é municipal.
27:19Ele determina um prazo.
27:20Se ele determina um prazo, é porque é preventivo.
27:24Chovou, faça sol, eu vou fazer.
27:25Meu exame, médico, eu faço uma vez por ano.
27:28Eu não preciso estar sentindo nada para fazer.
27:30Então, a lógica é exatamente a mesma.
27:32E aí, a partir dessa vistoria,
27:35que a norma chama de inspeção predial,
27:37que vai gerar, dentre outras coisas,
27:39o que ela chama de patamar de urgência,
27:41ela precisa fazer primeiro isso,
27:42depois isso, depois isso.
27:43O patamar de urgência é a expressão da norma.
27:46Aí, eu vou seguir para o que eu preciso fazer.
27:48Mas, assim, por ser periódico,
27:51eu vou estar agindo preventivamente.
27:53Ou, na pior das hipóteses,
27:55eu vou detectar cedo o problema.
27:57E, assim como na saúde,
27:58você agir preventivamente,
28:00ou você detectar um problema cedo,
28:03a chance de sucesso,
28:04de menos risco,
28:06menos transtorno e menos gasto é maior.
28:09Professor Luiz Fernando,
28:10muito obrigado pela entrevista.
28:12Um prazer, prazer estar aqui.
28:14Obrigado a você.
28:15E você que acompanhou até aqui,
28:17obrigado pela companhia e audiência.
28:18A gente volta na semana que vem.
28:20Legenda Adriana Zanotto