Marcelo Favalli, apresentador do Conexão, explicou no Real Time a possível causa da morte do Papa Francisco: uma hemorragia cerebral, e como será o rito de velório. Além disso, relembrou como foi a visita do pontífice ao Brasil, em 2013, poucos meses após assumir o papado.
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NotíciasTranscrição
00:00Bom, e aqui no estúdio quem está comigo é o Marcelo Favalli, que é o apresentador do Conexão
00:04e uma pessoa que já cobriu muitas visitas do Papa Francisco também, sabe muito sobre o Vaticano.
00:09Bom dia, Marcelo, seja bem-vindo ao Real Time.
00:11Obrigado por me receber aqui. Esse encontro de Marcelos é que a ocasião se faz necessária, Torres.
00:18E a imprensa italiana acena para uma possibilidade, ainda não é uma informação oficial,
00:24ela carece ainda de uma confirmação vinda do próprio Vaticano, mas que a possível causa da morte do Papa Francisco
00:31teria sido uma hemorragia cerebral, um acidente cerebral ao qual ele não tinha resistido.
00:38Então, começou a ter as perdas das funções cerebrais depois do resto do corpo ao longo da madrugada
00:45e culminou com a morte por volta das 2h35 no horário local, 7h35 no horário de Brasília.
00:53O Papa Francisco, ele morre num momento...
00:56O contrário, né, Marcelo?
00:57Perdão.
00:57O contrário, né?
00:582h35 no horário italiano, 7h35 no horário de Brasília.
01:02Obrigado, estou ainda me habituando aos fuso horários aqui.
01:06Marcelo, eu queria que você lembrasse para a gente aquela visita que o Papa fez ao Brasil
01:10quando ele comandou a Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro,
01:14porque aquilo, eu estava lá, foi uma comoção, né?
01:17Foi assim, gente do mundo inteiro aqui e um Papa aberto ao diálogo, um Papa aberto aos jovens.
01:22Foi uma ocasião, assim, que o Papa se mostrou para o mundo, porque ele tinha assumido,
01:26fazia relativamente pouco tempo ali, se mostrou para o mundo como alguém disposto realmente
01:30a fazer mudanças na igreja, né?
01:32Torres, foi uma feliz coincidência, porque a ascensão do Papa Francisco se deu depois
01:37da renúncia do Papa Ratzinger, né, o Bento XVI.
01:42E já estava na agenda da Igreja Católica a Jornada Mundial da Juventude, que seria no Brasil.
01:49Foi o primeiro evento público, principalmente internacional, do Papa Francisco.
01:55Então, aquele evento que já estava na agenda, tornou, então, ali a primeira porta de apresentação
02:02do Papa Francisco para o mundo.
02:04E o evento cresceu exponencialmente, porque a imprensa do mundo, que cobriria aquilo como
02:11uma coisa mais sateletal, veio ao Rio de Janeiro, justamente porque seria o primeiro evento
02:18público, o primeiro grande evento internacional e a primeira viagem internacional do Papa Francisco.
02:24E, Torres, você que também morou muito tempo na Argentina, existe uma enorme curiosidade.
02:29Eu vou colocar nesses termos, mas existe uma explicação aí nas entrelinhas.
02:33O Papa Francisco viajou bastante.
02:35Ele veio ao Brasil, ele foi à Colômbia, ele foi ao Paraguai, ele foi ao Chile.
02:40Estou fazendo uma lista só de países do Cone Sul.
02:43Ele nunca foi à Argentina como Papa.
02:46Ele jamais retornou à Argentina no pontificado.
02:50E, segundo agora os seus biógrafos, existe uma explicação, existe um propósito disso.
02:58Porque, segundo o Papa, fazia suas confidências, e agora essas informações têm se tornado públicas
03:05pelas pessoas que estavam mais no entorno de Francisco, ele jamais quis abraçar a polarização na Argentina.
03:13Quando ele assume, em 2013, presidente Cristina Kirchner, que enfrentava uma enorme rejeição,
03:21o kirchnerismo e o peronismo já sofriam ali um certo balanço, e a própria presidente Cristina Kirchner
03:29chamou o Papa Francisco para que uma das primeiras visitas internacionais fosse na sua terra natal.
03:34A Argentina faria todo sentido.
03:36Mas o Papa Francisco, diplomaticamente, sempre recusou e fez essa confidência às suas pessoas próximas do Vaticano
03:43que ele não queria colocar, naquele momento, a igreja no meio de um centro político.
03:49Depois, com Cristina Kirchner eleita, reeleita, e mais recentemente na campanha do atual presidente Javier Meley,
03:57que na campanha foi muito crítico, vociferava muito contra o Papa Francisco,
04:03existe uma publicação nas redes sociais do próprio presidente Javier Meley,
04:07na época da campanha, em que chamava o Papa Francisco como o enviado do demônio,
04:12porque o Javier Meley fez uma campanha muito colada aos conservadores,
04:18que eram bastante críticos ao Papa Francisco,
04:21Francisco disse que não gostaria de voltar à sua terra natal,
04:25embora sabia que tinha essa dívida com os fiéis argentinos,
04:28por causa dessa polarização e temia clivar a imagem dele na questão política.
04:36E faleceu sem voltar à Argentina, à sua terra natal,
04:40embora tenha viajado muito especificamente para a América do Sul.
04:43Você lembrou a viagem dele aqui ao Brasil, foi a Aparecida do Norte,
04:46mais recentemente ele esteve no Paraguai, foi à África algumas vezes,
04:50viajou inclusive para o Sudeste Asiático,
04:52onde o cristianismo não é uma, principalmente o catolicismo,
04:58não são religiões majoritárias,
05:00Sudeste Asiático ainda tem tradições xintoístas,
05:04mas principalmente é um grande bolsão muçulmano,
05:08mesmo assim ele nunca deixou de dar atenção para os católicos
05:11e os cristãos de modo geral daquelas regiões,
05:14mas para a Argentina ele nunca foi.
05:16A gente fala tanto da posição política do Papa Francisco,
05:20então tem essa raiz.
05:22Esse componente, né?
05:23Javier Milley pediu desculpas depois pelos comentários que ele fez.
05:26Se encontraram no Vaticano como se nada daquilo tivesse acontecido, né?
05:30Mas houve um pedido de desculpas.
05:31Outra coisa interessante da gente lembrar da história do Roger Bergoglio, né?
05:35É que muita gente acusava ele na Argentina de ter ficado muito calado durante a ditadura,
05:40mas depois a gente soube que ele não estava calado,
05:43ele estava agindo nos bastidores sem fazer alarde
05:45para ajudar a salvar muita gente que estava sendo torturada ali,
05:48muita gente que estava sendo perseguida pela ditadura.
05:50Isso voltou muito na campanha agora que elegeu Javier Milley.
05:55Muitos dos apoiadores do Javier Milley trouxeram isso à tona
05:59para reforçar a crítica contra o Papa Francisco,
06:02que inclusive acolheu pessoas que eram perseguidas pelo regime.
06:06Ele nunca trouxe isso muito claramente.
06:10E agora, obviamente, já na segunda metade, vamos colocar assim, do papado do Francisco,
06:16saíram biografias, algumas autorizadas e colaboradas por ele mesmo.
06:21Agora, certamente, com o falecimento dele, muitas outras obras vão sair,
06:26com esses, vamos chamar, segredos de bastidores.
06:29O que a gente sabe de agora, né?
06:31Existe um movimento de que a gente espera a confirmação dessa informação
06:37que já foi dada, inclusive, pela imprensa oficial italiana,
06:41que muito provavelmente a causa da morte dele foi uma hemorragia cerebral.
06:45O corpo, ainda nesta segunda-feira, dia 21,
06:48será trasladado para a Capela de Santa Marta,
06:52que o Diogo Mezzogiorno explicava.
06:54Então, é uma das unidades dentro da cidade do Vaticano,
06:59onde os viajantes que vão para o conclave,
07:02os bispos, perdão, do mundo inteiro,
07:05os cardeais do mundo inteiro agora viajam,
07:08se concentram na unidade Santa Marta.
07:10Ali dentro tem uma capela.
07:13O Papa Francisco gostava muito da Capela de Santa Marta,
07:16quando ele gostaria de se recolher e fazer preces pessoais,
07:21para Deus ele ia à Capela de Santa Marta.
07:23Então, o corpo vai ser velado para esse velório interno
07:26do clérigo vaticanal, dentro da Capela de Santa Marta.
07:31E, em 2024, abril, ele deixa o rito do seu velório.
07:38Ele deixa... Isso é comum entre os papas.
07:41Ele já deixou por escrito o que ele quer.
07:43Primeira coisa que era uma exigência dele.
07:46Esse caráter jesuíta, da simplicidade, fora o luxo.
07:51Ele é o Papa de número 266.
07:55Ao longo de dois mil anos, criou-se todo um rito de muita sofisticação.
08:03Os papas são enterrados em três caixões.
08:06Um deles de cipreste, que é uma madeira muito nobre.
08:11Ele pediu que não, que ele queria ser enterrado,
08:15sepultado, num caixão simples, provavelmente de pinho,
08:20e para atender normas sanitárias, que ele fosse revestido de zinco,
08:26que é um metal nobre.
08:28Nos ritos tradicionais, o caixão selado tem que ser de chumbo.
08:34Então, ele dispensou tudo isso.
08:37E essas curiosidades agora internas no Vaticano,
08:40um dos primeiros ritos, isso historicamente falando,
08:43é a destruição do anel do pescador.
08:47O Papa recebe um anel com a imagem de Pedro,
08:51o pescador de almas, um dos apóstolos, o primeiro Papa,
08:56feito de ouro, não vou dizer maciço,
08:58mas de um ouro de alto quilate.
09:05O Francisco pediu que esse seu anel do pescador
09:08fosse feito de um metal não nobre.
09:11Ele, claro, segue o rito de ter o anel do pescador,
09:14mas de um metal não nobre.
09:16Assim como o crucifixo que ele leva no pescoço,
09:19adornado com uma corrente,
09:21e tem um gancho que prende no botão da roupa,
09:24o dele também é de um metal muito simples,
09:26não é de ouro, de alto quilate,
09:32como tradicionalmente são ofertados aos Papas.
09:35E uma outra curiosidade,
09:37a alta costura italiana presenteia o Papa.
09:41Então as roupas papais de outros Papas,
09:44a exemplo do Papa Ratzinger, o Bento XVI,
09:48João Paulo II,
09:49eles eram feitos pela alta costura italiana.
09:52E a Prada, que dispensa apresentações,
09:54uma marca de luxo da moda,
09:57e principalmente de sapatos Prada,
10:00dava os sapatos aos Papas.
10:02O Papa Francisco recusou todo esse tipo de oferta.
10:07Ele não queria, então, uma batina,
10:09nem uma roupa papal de alta grife,
10:12muito menos os sapatos sofisticados.
10:15Ele usava um sapato antigo, velho, surrado,
10:19que, como ele disse em uma ocasião,
10:20lembra os tempos de caminhada
10:23nas ruas pedregulhosas da Argentina.
10:26Então ele deixa esse legado de simplicidade
10:29e quer que esses ritos da simplicidade jesuíta
10:32sejam praticados agora no Vaticano
10:36durante o seu sepultamento.
10:38E, a última curiosidade,
10:40ele será sepultado a pedido dele
10:42na igreja, na Basílica de Santa Maria Maior,
10:46ou Santa Maria Maggiore,
10:47a Grande Maria, numa tradução menos literal,
10:51que tem uma curiosidade, Torres.
10:53Ela é uma igreja que fica no coração de Roma,
10:56fora do Vaticano,
10:58muito visitada por turistas,
11:00é um ponto turístico importante,
11:02e muito visitada por peregrinos.
11:04É uma basílica, é uma catedral,
11:06ela é gigantesca e, curiosamente,
11:08no que se chama de nave,
11:10existem aquelas cabines dos confessionários.
11:15E a Santa Maria Maggiore tem uma característica
11:19diferente das demais igrejas romanas,
11:22em Roma, na capital italiana,
11:24porque esses confessionários
11:26são de diferentes idiomas.
11:28Então quem fala português, francês,
11:30alguma língua árabe, línguas orientais,
11:33pode pedir a presença de um padre
11:35que é fluente nesse idioma
11:36e se confessar em vários idiomas,
11:39que dá o caráter de abraçar os peregrinos,
11:42abraçar os viajantes,
11:45algo que o Papa Francisco
11:46sempre gostou muito de fazer,
11:48de levar a palavra para outras nações
11:50que não apenas aqueles falantes de latim
11:53ou falantes italiano,
11:54que é a língua oficial ainda do Vaticano.
11:57Então essas características aí
11:58cumprem um pouco da personalidade,
12:01uma das razões pelas quais
12:02o Papa Francisco quer ser sepultado
12:05na Basílica de Santa Maria Maggiore,
12:07fora do Vaticano,
12:09o que também cumpre,
12:10e aí eu quebro uma das tradições,
12:12porque a esmagadora maioria dos pontífices
12:14foi sepultada dentro do território do Vaticano,
12:17o Torres.
12:17Tá certo.
12:18Marcelo Favalli,
12:18foi um prazer enorme te receber aqui no Real Time.
12:20Tudo meu.
12:21Muita coisa interessante você trouxe para a gente.
12:23Obrigado pela sua participação.
12:24Daqui a pouco eu volto.
12:25Tá legal.
12:26Até já.
12:26Tchau.
12:27Tchau.
12:28Tchau.
12:29Tchau.
12:30Tchau.